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Museus de Ciência e Pensamento Crítico

21 de maio de 2024

A palestrante principal do Jantar Anual de 2024 do Science Museum Group, a escritora e comunicadora científica brasileira Natália Pasternak, reflete sobre museus, ciência e pensamento crítico.

Quando as pessoas pensam em museus em geral, o que normalmente vem à mente é um lugar onde vamos para aprender sobre o passado da humanidade e do mundo natural. É como um repositório de conhecimento. É verdade, é claro, que os museus nos oferecem um vislumbre do passado, uma melhor compreensão de nossa história e de nosso lugar no mundo — mas será que é só isso?

Os museus de ciência são diferentes. Embora também sejam um repositório de conhecimento científico, precisam levar em conta o fato de que a ciência não está gravada em pedra. Esse é um dos aspectos mais belos da ciência: ela muda à medida que surgem novas evidências sobre como as coisas funcionam — e, de repente, algo que antes se acreditava ser verdade pode ser questionado. Mas como encaixamos isso em uma exposição de museu? Como garantir que o público receba não apenas o conhecimento científico atual, mas também a compreensão de que a ciência é uma atividade autocorretiva, em que o conhecimento pode mudar?

Para responder a essa pergunta, gostaria de me concentrar em dois aspectos principais: o primeiro é a educação científica e o segundo é a relatividade do erro.

A educação científica precisa mudar — e os museus podem ajudar. Em todo o mundo, a ciência costuma ser ensinada como um grande corpo de conhecimento que os alunos precisam memorizar, porque “vai cair na prova”, com respostas de sim ou não.

Na semana passada, tive o privilégio de ser a convidada de honra e palestrante principal no Jantar Anual do Science Museum Group, e essa frase arrancou boas risadas da plateia — então sei que tocou em algo com que muitos ali se identificaram em suas experiências escolares.

Acrescentei que não consigo imaginar nada menos científico do que respostas de “sim” e “não”! Essa simplesmente não é a forma como fazemos ciência. Mas, quando ensinamos dessa maneira, criamos expectativas impossíveis no público. As pessoas passam a querer uma ciência de certo e errado, de “sim” ou “não”, exatamente como aprenderam na escola. E então, como cientistas, ficamos surpresos quando algumas pessoas desconfiam de vacinas novas, como as da COVID-19. Ninguém explicou a elas como uma vacina realmente funciona, o que significa eficácia, ou como testamos isso em ensaios clínicos. Precisamos fazer melhor. Precisamos começar a ensinar o processo científico, não apenas os resultados. Ao ensinar como usamos o método científico e como se estabelece o consenso científico, talvez possamos acabar com essas expectativas impossíveis e construir confiança.

Isso me leva ao meu segundo ponto: a relatividade do erro. O que os cientistas não sabem pode ser assustador para o público — e quando os cientistas mudam de opinião em função de novas evidências, pode ser ainda mais assustador. Nós, cientistas, estamos acostumados a mudar de ideia, a errar e a fracassar repetidas vezes em experimentos. O público, não. Afinal, ele vê apenas os resultados — não o processo —, e por isso muitas vezes não percebe o quanto de mudança, falha e repetição há na pesquisa científica. Precisamos mostrar isso a eles. Mas devemos ter cuidado ao deixar claro que reconhecer nossos erros passados não torna automaticamente todo o conhecimento inútil.

Isaac Asimov escreveu, em 1989, um ensaio para a revista Skeptical Inquirer intitulado “A relatividade do erro” (The Relativity of Wrong). O texto surgiu como resposta a uma carta que ele recebeu de um estudante de literatura, que afirmava que, já que a ciência havia errado tantas vezes no passado, não se podia confiar que estivesse certa agora. Asimov respondeu que esse sentimento provavelmente nasce da noção de que certo e errado são absolutos, e de que “tudo o que não é perfeitamente e completamente certo é totalmente e igualmente errado”. Ele prossegue dizendo que acreditar que a Terra é plana é errado. Acreditar que ela é uma esfera também é errado. Mas acreditar que a Terra plana é tão errada quanto a Terra esférica é ainda mais errado do que as duas crenças anteriores!

Acredito que os museus de ciência podem promover o pensamento crítico, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, ao ensiná-los sobre o método científico e o processo da ciência — e sobre como, ao usarmos esses instrumentos para desenvolver conhecimento e tecnologia, podemos errar menos.

Confira o artigo original:

© 2025 por Natalia Pasternak. Projetado e desenvolvido pela Harmonic.

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