Microbiologista, escritora e professora da Universidade de Columbia

O ensino superior não ensina pensamento crítico por padrão
10 de setembro de 2025
Costuma-se dizer, de forma despreocupada, que em uma era de política “pós-verdade” e de ambientes de trabalho movidos por inteligência artificial, a habilidade de pensamento crítico se tornou mais valiosa do que nunca. Só ela, dizem, pode impedir que charlatões roubem nossos votos e que as máquinas roubem nossos empregos.
O pensamento crítico costuma ser apresentado como o grande diferencial do ensino superior, aquilo que distingue um curso de graduação de um simples treinamento técnico. Ele é, inclusive, reconhecido por órgãos de acreditação — como a Western Association of Schools — como uma competência essencial do egresso universitário.
Mas será que os estudantes realmente saem da faculdade mais críticos e capazes de avaliar evidências? Estão realmente preparados para separar ciência de pseudociência, lidar com o fluxo de desinformação e enfrentar alegações anticientíficas, como o negacionismo climático e o antivacinismo? São mesmo capazes de resistir ao apelo de um mercado de “bem-estar” pronto para vender produtos desnecessários e, às vezes, até prejudiciais?
As evidências estão longe de ser animadoras. Uma pesquisa recente da Gallup, por exemplo, mostra que estudantes universitários têm a mesma probabilidade de acreditar em pseudociências que pessoas que nunca cursaram a faculdade. E outros estudos indicam que, entre os universitários, metade não apresenta qualquer melhora em suas habilidades de pensamento crítico após dois anos de curso.
A maioria dos departamentos acadêmicos afirma já ensinar pensamento crítico em suas disciplinas regulares — mas diverge quanto ao que o termo realmente significa. E, de modo geral, não parecem fazer um bom trabalho. Na verdade, estudos mostram que a melhor estratégia é ensinar disciplinas específicas de pensamento crítico, com foco em como distinguir ciência de ruído, reconhecer vieses cognitivos e falácias lógicas que distorcem nosso julgamento, e avaliar evidências científicas levando em conta diferentes contextos sociais, culturais, políticos e econômicos.
Em 2023, meus colegas e eu fundamos a Lilienfeld Alliance, dedicada ao ensino do ceticismo racional. O nome é uma homenagem a Scott Lilienfeld, professor de psicologia e pioneiro na área, que defendia o ensino do pensamento crítico científico com uma abordagem “refutacional” — em que os alunos são diretamente expostos a refutações de pseudociências e raciocínios confusos. Levamos essa abordagem para a sala de aula e a testamos. Ela permite que os alunos confrontem seus equívocos de forma direta, entendendo por que e como é possível separar o que funciona do que não funciona.
Um estudo publicado em 2018 por dois membros do nosso grupo, Ray Hall e Katie Dyer, comparou a persistência de crenças infundadas entre estudantes que fizeram disciplinas convencionais de metodologia científica e aqueles que cursaram uma disciplina específica chamada “Science and Nonsense” (“Ciência e Nonsense”), baseada na abordagem refutacional. O segundo grupo apresentou uma queda significativa nas crenças infundadas, enquanto o primeiro não mostrou melhora alguma. Outros estudos controlados, conduzidos por pesquisadores independentes, também observaram reduções significativas de crenças injustificadas com o uso dessa abordagem — não apenas em aulas de ciência, mas também em disciplinas de história e estudos gerais.
Não estamos sozinhos nessa visão. O ganhador do Nobel de Física Saul Perlmutter ministra, há 10 anos, uma disciplina semelhante na Universidade de Berkeley chamada Sense, Sensibility and Science (“Sensatez, Sensibilidade e Ciência”), cujo objetivo é ensinar os alunos a tomar boas decisões sobre temas complexos com base no pensamento crítico científico.
A abordagem de Perlmutter vem sendo replicada por outras universidades. Mesmo assim, implementar disciplinas dedicadas exclusivamente ao pensamento crítico no ensino superior continua sendo um desafio — em parte porque quase qualquer coisa pode receber esse rótulo. Cursos de lógica em departamentos de filosofia podem ser considerados aulas de pensamento crítico; o mesmo vale para disciplinas básicas de matemática e engenharia, que envolvem raciocínio sistemático; e, sob certo ponto de vista, até para aulas comuns de metodologia científica.
Há ainda a chamada “maldição da interdisciplinaridade”. Como o pensamento crítico não é uma disciplina claramente definida, surge a pergunta: quem deve ensiná-lo? Os departamentos de ciências? De psicologia? De filosofia?
Uma pesquisa conduzida pelo nosso grupo sobre cursos de graduação nos Estados Unidos encontrou muitas disciplinas rotuladas como “pensamento crítico”, mas apenas 58 adotavam uma abordagem refutacional, abordando equívocos de forma direta.
Além disso, a maioria desses cursos era optativa, mantida por professores isolados, e quase sempre deixava de existir quando eles se aposentavam ou mudavam de instituição. No entanto, se as habilidades de pensamento crítico são realmente um componente essencial da formação universitária, elas deveriam fazer parte dos currículos básicos e obrigatórios de todos os cursos — mesmo (ou talvez especialmente) daqueles não voltados às ciências.
Afinal, estudantes de artes, música ou literatura têm tanto a ganhar quanto qualquer outro cidadão com disciplinas que ensinem, de maneira clara e direta, como usar a ciência como ferramenta de pensamento crítico. Eu mesmo leciono disciplinas sobre o uso da ciência na formulação de políticas públicas, e a maioria dos meus alunos não tem formação científica. Ainda assim, eles valorizam as ferramentas críticas que a ciência oferece para tomar decisões informadas.
Eles também apreciam aprender sobre os equívocos do senso comum e sobre como nossos vieses e motivações pessoais podem facilmente nos enganar. E, quando as evidências são bem apresentadas e discutidas com respeito em sala de aula, eles mudam de opinião.
A Lilienfeld Alliance organiza conferências anuais — as Lilicons — nas quais reunimos professores dedicados ao ensino do pensamento crítico para discutir estratégias, metas de aprendizagem e obstáculos na área. Se você é professor universitário e tenta ensinar disciplinas semelhantes, ou busca incluir ferramentas de pensamento crítico em suas aulas regulares, está convidado a se juntar a nós e a promover mais racionalidade no mundo.
Afinal, há algo em que todos podemos concordar: o pensamento crítico, quando bem compreendido e bem ensinado, é realmente a habilidade mais importante que uma universidade pode transmitir aos seus formandos — hoje mais do que nunca.
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